Cinco e meia da manhã: acordamos meio que sonâmbulos pois é hora de deixar a Lituânia e sua limpíssima e simpática capital Vilnius. O voo não é tão cedo assim, mas o problema é que ele não parte do aeroporto de Vilnius e sim do aeroporto de Kaunas, uma cidade a mais ou menos uma hora da capital.
Eu tenho um problema (não apenas um, mas vários, antes que os que me conhecem bem deem risadas) que é gostar de chegar cedo em aeroportos. Confesso que não suporto a ideia de me atrasar para um voo. Ainda mais usando companhia low cost. Ou seja, perdeu o horário, perdeu o dinheiro da passagem.
Celina diz que eu faço a conta do tempo que leva para o aeroporto e multiplico por dois para ver a hora de saída. Não é bem assim. Normalmente eu multiplico por três mesmo pois se chegar ao aeroporto e perceber que está faltando alguma coisa dá tempo de ir e voltar para buscar. Porém, nesta viagem, ficando em Airbnbs, não temos a opção de retornar ao nosso apartamento pois a chave já foi deixada dentro da acomodação para o proprietário buscar. Ou seja, nesta volta ao mundo, a Celina está certa, eu só multiplico por dois mesmo o tempo do transfer para lidar com qualquer eventualidade. Tudo isso para justificar nossa saída às 5:30 da manhã.
Descobrimos que existia um transfer Vilnius/Kaunas que partia de uma rua bem próxima da rodoviária local. Ótimo, pois conseguimos ir até lá usando transporte público direto do apartamento que alugamos. Ao chegar no local indicado vimos um ônibus estacionado com pessoas embarcando.
– Caracas, tá vendo só! O ônibus adiantou e vamos perder a viagem. Olhei para Celina com a cara de “a gente deveria ter saído às 4:30 da manhã para ter garantido o horário anterior”.
Fora do sinal, atravessamos a rua esbaforidos para tentar pegar o ônibus (ainda bem que o trânsito às 7 horas da manhã em Vilnius é tranquilo) e quando nos preparávamos para embarcar no ônibus, percebemos que tinha criança demais. Caramba, tanta criança que vai voar da Lituânia tão cedo!?!
Resumo da ópera: o ônibus não era o transfer do aeroporto e sim uma excursão de algum colégio local. Mães e pais chorosos se despediam dos filhos. Eles se falavam em lituano, obviamente, mas entendemos tudo com perfeição:
– Meu filho, comporte-se! Mostra aos outros a educação que te dei.
– Vê se não come só besteira!
– Se fizer frio, coloca um casaquinho de noite!
Realmente, com 8 meses de viagem, nossa facilidade em entender línguas estrangeiras já estava enorme. 😉
E decola o avião para a ilha de Malta.
Aterrissamos no aeroporto de Luqa. Mais uma vez, chegamos em uma cidade diferente de onde iríamos ficar. Nossa próxima hospedagem era em Cospicua, relativamente próxima da capital Valetta. Em Malta, por ser uma ilha tão pequena, você cruza cidades como se estivesse cruzando bairros, daí não é incomum, você cruzar 3 ou 4 “cidades” quando vai de um lugar a outro.
Pegamos um táxi, mostramos o nome da rua do próximo Airbnb e o motorista nos deixou em uma esquina:
– Daqui não posso seguir mais. Argumentou o motorista
– Por que? É perigoso? Recaídas de cariocas que somos!
– Não a rua é muito estreita, não entra carro.
E aprendemos mais uma coisa de Malta. Muitas ruas são tão estreitas que você certamente vai ter que caminhar até chegar ao seu endereço. Para complicar mais as coisas, nosso anfitrião não deu o número do prédio (“em Malta ninguém usa número nas ruas”).
– Eu sabia que não era uma boa alugar um apartamento de decorador (lemos no perfil do Airbnb que essa era a profissão de nosso anfitrião). Comentou meio contrariada a Celina ainda com os efeitos de ter acordado às 5 e meia da manhã. E continuou:
– Decorador só quer coisa bonita, não pensa nas questões práticas.
Lembro bem do nome da rua: Triq San Gorg. Triq é rua em maltês e San Gorg é São Jorge. Pela localização geográfica de Malta, a sua língua ficou uma interessante mistura de árabe com um toque latino.
E percorremos toda a San Gorg. E nada. E agora? Vou ter que achar um wifi para conseguir ligar para o proprietário!
– Hello! Are you Marcelo? I am Michael and this is Tina.
Um cara todo bem vestido de uns 35 anos e uma simpática senhora de uns 60 anos.
Bem, a Tina era quem cuidava do apartamento e o Michael o irmão do proprietário. Era um prediozinho de três andares, pequeno, com arquitetura tipicamente maltesa. Michael morava na cobertura (e a Tina do outro lado da rua). O 1º e o 2º andares foram montados especificamente para aluguel pelo Airbnb. Como já existe gente que vive de alugar casa pelo Airbnb!
Entramos no elevador (coisa rara nos bairros mais históricos de Malta!), descemos no apartamento e ele era realmente lindo! O mais bonito que tínhamos ficado até agora. Ainda bem, pois também foi a acomodação mais cara de toda viagem, disparado. Pagamos mais de US$ 100/dia, o que é muito mais alto que vínhamos pagando antes. O motivo foi que estávamos no início de agosto e isso é altíssima temporada, principalmente em Malta, que é “invadida” por turistas europeus nesta época do ano. Fechamos o aluguel meio que em cima da hora e assim a oferta de imóveis já estava baixa e, pela primeira vez na viagem, tivemos que fechar um apartamento que não tinha nenhum comentário. Isso é bem arriscado em se tratando de Airbnb pois o sistema como um todo se baseia na confiança gerada pelas avaliações de hóspedes que já ficaram naquele lugar antes de você.
Mas como disse antes, o apartamento era novinho, super bem cuidado e tinha vários detalhes legais (uma das coisas muito bacanas era uma porta de madeira, que dividia a sala do corredor e que, ao fechar se dobrava e ficava embutida no portal).
Porém, como o título do post já indica, era uma “casa de decorador”, ou seja, algumas questões práticas perdem para a questão estética. Por exemplo, não tinha nenhum ganchinho para prender a toalha no banheiro! As luzes do quarto e da sala eram românticas e indiretas, mas para ler alguma coisa, o negócio já complicava um pouco. Uma mesa decente para trabalhar com o laptop também estava faltando. Mas, tudo bem, a limpeza e o charme do local compensaram sim estes “pequenos deslizes de decorador”.
Ah, e tem mais uma: sempre que fechávamos algum local para ficar, verificávamos a distância para o ponto de ônibus mais próximo pelo Google Maps. Pelo mapa, esse apartamento em Malta ficava a uns 200 metros do ônibus que nos levaria para Valetta. Mais uma lição de Malta: a distância horizontal não conta muito. Você tem que verificar a distância vertical também. Em uma ilha toda pedregosa, o que não faltam são intermináveis ladeiras e escadarias. Pois é, cada vez que voltávamos para casa (a subida), principalmente carregando compras de mercado, sempre relembrávamos desse pequeno “detalhe”.
Nesse ponto, nosso simpático decorador não teve culpa.
6 comentários sobre “Na casa de um decorador em Malta”
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Malta é demais. Não tem como não se apaixonar. Fiquei em depressão quando tive que voltar rs. Sucesso pra vcs 🙂
Marcelo, não se se vc lembra de mim. Sou amigo do Santa Mônica do Márcio – seu irmão. Cara, gostaria , mesmo atrasado, de parabenizar vc por esta epopeia, posts, textos, fotos. Acompanho o blog de vcs desde qd o Marcio comentou o que vcs iriam fazer. Acho que ainda no começo. Muito legal ! Show ! Vou usar vcs como referência em meu futuro. kkkk. Abraços !
Que legal, Léo. O blog serve como uma forma de nós “guardamos” o que se passou em nossa viagem. Foi realmente um projeto que sonhamos (e acabamos executando 🙂 bastante. Melhor ainda saber que algumas pessoas gostaram de acompanhar e se inspiraram com o mesmo. Grande abraço.
Aguardo convite para o lançamento do livro. kkkk. Abração e mais uma vez parabéns ao casal !
Amigos, confesso que há um tempo não leio os posts. Como estão após mais de 1 ano na estrada? Vontade de voltar ou de seguir pelo mundo? Fixariam residência em algum destes inúmeros cantos do nosso mundão?
Fiquem com Deus!
Caramba, Zéu. Acho que dá para fazer um outro blog somente dedicado a essas perguntas que você fez. De maneira resumida, pensamos sempre em ter um a ideia nova na cabeça. Onde exatamente? Isso cada circunstância e momento de nossa vida vai dizer. Abraços.