O Quênia, na realidade, foi só nossa porta de entrada na África. O primeiro dia oficial de nosso tour pelo continente consistia em sair de Nairobi e ir direto para a cidade de Arusha na Tanzânia. Foram 290 km de estradas ruins, cruzando por vários vilarejos à beira da estrada para irmos nos acostumando à paisagem do leste da África.
A Tanzânia, com aproximadamente 41 milhões de habitante e uma área um pouco maior que o Estado de Mato Grosso é o maior país da chamada África do Leste ou East African Community que consiste do Quênia, Tanzânia, Uganda, Ruanda e Burundi.
Na Tanzânia é onde fica localizado o monte Kilimanjaro, ponto culminante da África com seus imponentes 5,800 m e suas neves eternas tão ameaçadas pelo aquecimento global. Outras atrações mais conhecidas são o Parque Nacional do Serengeti, o Ngorongoro, uma cratera de vulcão extinto povoado por um enorme número de animais e a ilha de Zanzibar. Por falar em Zanzibar, a Tanzânia é na realidade a união entre Tanganika (a parte continental com influência britânica) e Zanzibar (com grande influência árabe), originalmente dois países separados. Outra curiosidade que duvido que muita gente saiba é que a Tanzânia é a terra natal de Freddy Mercury. Isso mesmo, ele não é inglês e sim nasceu em Zanzibar. Passamos pela entrada do prédio onde ele passou sua infância.
No total, viajamos 11 dias no país, cruzando o mesmo de norte a sul e deu para ter uma ótima ideia da paisagem local.
Ao chegarmos em Arusha, já tivemos um gostinho das condições que iríamos enfrentar nos próximos dias de viagem. Sem luz, tivemos que tomar banho frio com a lanterna na cabeça iluminando o banheiro. No entanto, o céu com infinitas estrelas, que nos acompanhou durante praticamente toda a viagem, fez uma estreia de gala.
Arusha é a porta de entrada do Serengeti. Ah, o Serengeti. Esse é o parque em que o desenho da Disney “Rei Leão” foi inspirado. É o Rei dos parques. Como estivemos lá no finzinho do período das chuvas, a vegetação estava toda verde. Foi um contraste com a paisagem mais seca e cor de terra que tínhamos visto por lá quando o visitamos pela primeira vez em 2006. As duas épocas têm a sua beleza. Difícil de explicar por que gostamos tanto deste parque. Talvez sejam os milhares de gnus e zebras se preparando para a migração anual para norte. Talvez seja a paisagem inacreditavelmente linda e que vai sutilmente se transformando de acordo com a região do parque em que você está. Talvez seja a facilidade com que se encontram os animais. Talvez seja o sol tão característico, tão africano, tão redondo, tão amarelo. Talvez sejam as noites frias e os sons de animais por toda parte. Ah, o Serengeti.
Por falar em sons de animais, passamos por uma experiência inesquecível, e ao mesmo tempo assustadora, quando lá estivemos. Os pouquíssimos hotéis que ficam localizados dentro do parque – acho que são três – são muito caros e restritos, daí todo nosso grupo ficou acampado. E, no Serengeti, acampar significa ficar literalmente no meio dos animais. Junto com o Ngorongoro foram os únicos grandes parques da África que vimos que a área de camping não era cercada. Não consegui uma explicação oficial por que permitem isso no Serengeti sendo que é o parque com o maior número de bichos. Que eu tenha conhecimento, jamais aconteceu qualquer ataque a turistas. Minha teoria pessoal é que o parque tem tanto animal (comida) que lá se encontra um equilíbrio ecológico quase que perfeito. Os animais, se não provocados, não têm nenhum motivo para atacar o ser humano. Não somos apetitosos.
Essa é a teoria e a prática ocorreu na nossa segunda noite, uma madruga fria em que estávamos todos encolhidos nos respectivos sacos de dormir. Já tínhamos sido alertados que era desaconselhável sair das barracas de noite para ir ao banheiro (fato esse que quase causou uma desidratação na Celina pois ela ficou o dia inteiro sem beber água temendo que tivesse vontade de fazer xixi de noite). Pois bem, às 4:30 da madrugada todos do grupo ouvimos um ronco bem alto do lado direito de nossas barracas. Silêncio total. Naquele momento, ninguém se atreveu a ligar as lanternas nem a levantar a voz. Apenas ouvi pequenos sussurros em várias línguas vindo das barracas em que estavam os casais. Provavelmente, um dizendo para o outro ficar calado e não se mexer. Da barraca dos solteiros, nem um pio. Logo depois ouvimos o mesmo rugido do lado esquerdo das barracas. Não havia dúvida que era um (ou dois) leão(ões) que estava(m) rondando o acampamento. Ao amanhecer, as pessoas demoraram mais que o normal para sair de suas barracas. Ninguém queria ser o primeiro a abrir o zíper. Não me recordo quem foi o herói ou heroína (eu não fui) que saiu primeiro, mas todos ao colocarem seus corpos para fora narraram cada um a seu jeito o susto passado. Ao examinar o chão, encontramos pegadas do leão que resolveu dar uma conferida em nosso acampamento.
E o Serengeti continua com seu equilíbrio intocado.
Ah, o Serengeti.
12 comentários sobre “Aconteceu na Tanzânia”
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Marcelo; Fico muito feliz de saber que vocês não viraram refeição de leão! Na entrada do parque tinha multa por animal morto incidentalmente. As multas para elefantes, zebras e leões eram as mais altas. Será que tinha multa também para turistas mortos incidentalmente por serem apetitosos? Que bom que ficaremos sem saber…
Oi Marcelo e Celina, esse blog é o máximo. As histórias são uma delícia de ler. E as fotos são maravilhosas.
Já estou ansioso pelas próximas aventuras! Grande abraço, João Marcello
PS: Andréia também manda abraços.
Olá, Dr. João. Que ótimo vê-lo por aqui é saber que está gostando do blog. Grande abraço (para Andréia também)
Eu não dormia ali nem a pau!
Dormia sim, Flores. Sabe aquela história quando você não tem opção….rsrs
Mais um lindo post, Tacu curto com suas tiradas poéticas, eu que já gosto de uma poesia. Mas realmente parece tudo inspirar o lado mais sensível do ser humano, a natureza em suas agruras e exuberância. Lindo, lindo!
Agora sobre o leão … Emoção mais do que a esperada, depois que passa é legal contar, mas acho que a Celina queimou uma das vezes que teria direito de chorar, porque eu chorava.. Talvez não né, estava desidratada !! Rsrsr
Que o mundo continue conspirando junto com vocês, sempre a favor.. Beijos saudosos
Obrigado, Bela. E a Celina se comportou super bem. Que chorar que nada. Não queimou o bônus que ela tinha não rsrs
Olá Marcelo e Celina! Que aventura… quanta emoção!
E quantas fotos lindas da Tanzânia =)
Tenho acompanhado a viagem de vocês por aqui e inclui no meu roteiro de viagens essa experiência na África.
Tudo de bom pra vocês, mta paz, mta luz e mais e mais emoção!
Vanessa Nazareth (CSC1)
Obrigado, Vanessa. Que bom que está gostando.
Ótimos texto e fotos, como sempre.
Finalmente chegou perto do Kilimanjaro, heim?
Essa história do leão é muito boa, mas vocês deram muita sorte. Imagina se o leão imaginasse que havia uma zebra tão perto?
😨
Pois é, ainda bem que o leão tem bom olfato (acho eu) ou estava de barriga cheia.