O Vietnam deixou boas recordações, por seu povo simpático, comida saborosa e belas paisagens.
A primeira impressão, porém, ao chegarmos no Old Town, centro histórico de Hanói, foi meio assustadora. Ruas barulhentas, estreitas e tumultuadas, apinhadas de motos (com seus pilotos mascarados) vindo de todos os lados. Elas dominam as ruas e são pau para toda obra: carregam até seis pessoas (inclusive crianças bem pequenas, que mal aprenderam a andar, equilibradas de pé na frente do piloto), cachorro, pilha de cadeiras, estante, vidraça… Vimos crianças de uns 10 anos pilotando e carregando outra criança na garupa!
Se existe alguma regra de trânsito não se nota. Mão e contramão são conceitos ignorados, sinal é meramente decorativo e buzinar é mania nacional.
Para nossa surpresa, o caos parece funcionar: o trânsito evolui de forma um pouco lenta, mas constante, sem grandes nós ou acidentes. Motos, tuk-tuks, carros, bicicletas e pedestres se intercalam num inacreditável emaranhado ritmado. Nos disseram que para atravessar a rua era só fechar os olhos e andar em velocidade constante, que os motoristas vão calculando os deslocamentos à sua volta e contornando os obstáculos. Nenhum espaço livre é desperdiçado. Evite ao máximo parar ou mudar o ritmo, porque isso desestabiliza o equilíbrio tênue, num efeito dominó. É mais ou menos assim mesmo!
E o turista tem que se adaptar logo à dinâmica da rua, já que as quase inexistentes calçadas ficam totalmente tomadas por vendedores e motos estacionadas, que muitas vezes bloqueiam a entrada das lojas.
As primeiras saídas do hotel são pura adrenalina, mas depois dá para (meio que) se acostumar com o caos.
Como por aqui a largura da fachada impacta na carga tributária, os estabelecimentos têm uma frente super estreita e crescem verticalmente, como um poste.
Historicamente, o governo comunista distribuía as moradias de acordo com escolaridade e estado civil do cidadão, começando com minúsculos cômodos de 4m2, para solteiro com apenas ensino primário, até chegar em unidades de 24m2, disponibilizadas para casal com dois níveis universitários.
Por falta de espaço nas casas, é comum banheiro e cozinha serem compartilhados por várias famílias e muitas vezes a comida é preparada e servida na calçada, geralmente em mesinhas e cadeirinhas baixas, que parecem de criança. Foi assim que surgiu a street food.
No centro histórico de Hanói cada rua tem um tipo de comércio (rua de material de construção, rua de artigos para bebê, rua de roupas de homem etc). E não se engane com os produtos com etiqueta famosa – falsificações estão por todos os lados, sem qualquer pudor ou repressão.
Quem preferir pode ficar hospedado na parte moderna de Hanói, mas o Old Town tem seu charme e fica do lado do belo lago Hoan Kien.
Fizemos dois passeios muito interessantes saindo da capital do Vietnam. O tour de um dia para Tam Coc (Três Grutas) vale principalmente pelo agradável passeio de bicicleta junto aos arrozais e formações rochosas, e pela navegação no Rio Ngo Dong, em um dos curiosos barquinhos remados com os pés.
O passeio de dois ou três dias pelo Halong Bay é muito bacana. A baía é impressionante, com milhares de ilhas de calcário. Cenário mágico e inesquecível.
Na volta de Halong Bay retornamos para o mesmo pequeno hotel. Será? Nos dois dias em que estivemos fora, o hotel mudou de nome, alterou fachada e recepção e trocou funcionários. Entramos meio ressabiados, com aquela sensação de pegadinha. Até que encontramos uma cara conhecida: a sempre atenciosa recepcionista Laura. Só que até ela estava diferente. O hotel tinha acabado de mudar de dono e a nova direção deve ter recomendado expressamente que os funcionários fossem mais simpáticos, o que é muito valorizado no Vietnam. Só que quem já era simpático ficou esquisito, exagerado, artificial. Tomara que a boa e velha Laura volte logo.
De Hanói fomos para Hoi An, mais ao sul do país. A cidade é uma graça, cheia de galerias de arte, lojinhas e restaurantes charmosos. À noite o centrinho fica ainda mais convidativo, com suas lanternas coloridas.
Assim como vimos no litoral da Tailândia, por aqui também é forte a oferta de alfaiataria com entrega a jato. Vários turistas aproveitam para renovar o armário, fazendo ternos e camisas sociais sob medida, e pagam por isso pequena fração do preço praticado no seu país. São várias lojas renomadas, com cortes e tecidos tradicionais de primeira, mas também há algumas com modelos menos convencionais.
A maioria dos hotéis e pousadas empresta ou aluga bicicleta, que é a melhor forma de se explorar a cidade ou ir para a praia.
Por falar em praia, como pele clara é sinal de beleza nessas paradas, as vendedoras ambulantes se cobrem completamente e usam máscara, luvas e meias, mesmo quando estão de chinelo. Algumas põem meias cor da pele, para não chamar tanta atenção no chinelo, mas não tem como ser discreto coberto da cabeça aos pés, caminhando na praia ou rua, no maior calor.
Enquanto isso, no Rio 40 graus os vendedores ambulantes desfilam seus corpos bronzeados, cheios de orgulho, e nós branquelos sofremos bullying light no verão.
É curioso perceber essas diferenças culturais.
10 comentários sobre “Bom dia, Vietnam”
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Celina: os assuntos são tão interessantes e abordados no primoroso estilo redacional Celinense que vale muito a pena reuni-los em um livro, por modesto e despretensioso que seja. Alem da inegável perpetuação dos seus conteúdos, resultará em um presente muito valioso e original a ser dado aos amigos, por exemplo nos seus aniversários e nas datas festivas, como no Natal.
Nada como seus comentários imparciais. 😘
Saudades.
Muito legal o post, bem interessante!
Realmente dá pra sentir como se estivéssemos mesmo no lugar, porém sem o calor, a bagunça, a poeira…
Aliás, o título do post foi muito criativo, de onde veio a ideia?
Valeu!
Elogio vindo de você tem muito valor. Mesmo que temperado com piadas.
😘
Como sempre maravilhoso texto!!! Estamos viajando com voces.
Obrigada!!!
Que bom que você está viajando com a gente!
Bjs
Cê, cada post mais surpreendente!! O mais legal é que estou descobrindo uma grande jornalista e escritora em você ! É tudo tão perfeito que nos leva muitas vezes para dentro do que você conta..
Realmente é uma delícia ler seu post .. Estou sempre aguardando o próximo !!
Sempre tive vontade ir ao Vietnã, agora então que já estive lá levada por com você.. quero mais ainda conhecer fisicamente ..
Beijos e muitas saudades de vocês !
Belinha,
Que bom que você está gostando.
Saudades.
😙
Celina, a Jessica me indicou e eu to adorando viajar um pouvo com vcs!
Grande beijo!
Que legal te encontrar por aqui!
Bjs