O Indiana Jones que existe em nós
A primeira curiosidade em relação ao Camboja é em relação ao nome do país. Dei uma pesquisada rápida e existe uma polêmica entre se escrever Cambodja ou Camboja em português. Aparentemente, a segunda forma é mais aceita. Em inglês, a forma correta é Cambodia. Lá eles falam Khmer que é mais uma língua impossível para nós e que também possui um alfabeto próprio todo cheio de curvas e bolinhas. Veja só como se escreve Camboja em Khmer!
ព្រះរាជាណាចក្រកម្ពុជា
Deixando a ortografia de lado, ficamos bem na dúvida de incluir ou não o país em nosso roteiro pois o interesse se resumia a apenas uma cidade. Siem Reap é a porta de entrada para as visitas aos templos do complexo de Angkor. Conseguimos um bom voo a partir do Vietnam para Siem Reap e de lá para a Índia e decidimos sim incluir o Camboja no roteiro, mesmo que por tão poucos dias. Era improvável que 4.000.000 de turistas por ano estivessem errados. Para se ter uma ideia da enormidade desse número, o Rio de Janeiro recebeu 1.600.000 turistas em 2014. Ou seja, Siem Reap recebe mais que o dobro de turistas que o Rio de Janeiro. Por essa você não esperava, não é?
Confesso que sempre tive muita curiosidade com esses templos pelas fotos que havia visto. A história que os mesmos foram abandonados (a maioria é do século XI e XII), completamente engolidos pela natureza e depois “redescobertos” apenas no início do século XX é bem cinematográfica.
Quando criança, nas minhas fantasias geográficas infantis, sempre imaginei a cena de entrar em Angkor Wat (o maior dos templos da região) no lombo de um elefante e ficar maravilhado com a grandiosidade do local.
Ao contar para a Celina esse meu devaneio ela me respondeu com a seguinte pérola:
– Qual a criança brasileira que já ouviu falar de Angkor Wat e imagina entrar lá de elefante? Definitivamente, isso não é normal!!!
Levei a coisa como elogio. Ser normal é meio chato mesmo. 🙂
Ao conhecer Angkor Wat, Celina entendeu meu pequeno sonho (não, não entramos de elefante e sim em um modesto tuk-tuk).
Para colocar a coisa em contexto, preciso explicar aqui o que é Angkor Wat. Na verdade, Angkor é apenas um (e o maior) dentre dezenas de templos (wat) da região e o correto é dizer que visitamos o complexo de templos de Angkor. Complexo esse com 400 km2 de extensão!
Angkor Thom, que significa Grande Capital, é o nome da capital do império Khmer que dominou todo o sudeste asiático nos séculos XI e XII. Apenas como uma comparação, no ano de 1100 era estimado que Londres tinha uma população de 15.000 pessoas, enquanto Angkor Thom tinha 1.000.000 de habitantes. Ou seja, uma megacidade. Era um dos maiores impérios do planeta à época.
Curioso como na escola nem ouvimos falar do império Khmer. Tudo que está longe da gente, geográfica e/ou culturalmente, é simplesmente ignorado pelo nosso sistema educacional (isso vale para tudo sobre a Ásia de modo geral).
Voltando aos templos, Angkor Wat é simplesmente o maior templo religioso da terra (em área). Gigantesco, tem elementos de Hinduísmo e Budismo, pois era ativo exatamente no momento histórico em que os reis do império Khmer trocaram de crença religiosa.
Uma das atrações locais é acordar de madrugada e ver o sol nascer sobre as torres de Angkor Wat. Seria melhor que os milhares de turistas não estivessem lá para sentirmos melhor o clima, mas não deixa de ser impactante.
Outro templo bem popular é o de Bayon, onde se encontram mais de duzentas faces esculpidas na pedra com um sorriso enigmático (a Monalisa da época?) que os estudiosos acreditam ser uma representação da face do rei, Buda ou mesmo a mistura de ambos. As esculturas estão muito bem conservadas e são realmente impressionantes.
Finalmente, outro templo extremamente popular é o de Ta Prohm. Esse templo ficou famoso pelas árvores que tomaram conta do local e sabiamente não foram retiradas dos escombros. O resultado final das árvores enormes “abraçando” as pedras é sensacional. Você tem mesmo a sensação de estar entrando em um mundo estranho onde quem mandam são as plantas.
Este templo também é conhecido como Tomb Raider pois foi aqui que o filme de mesmo nome, com a Angelina Jolie, foi filmado.
Bem, como eu disse antes são dezenas de outros templos e cada um com uma característica especial. Foram 3 dias que contratamos um tuk tuk para nos levar aos diversos lugares e não conseguimos visitar tudo. Isso se deveu em parte ao tamanho do local e em parte ao enorme calor que estava fazendo. Foi de longe a maior sensação de temperatura que pegamos na viagem até agora.
Bem, esse foi um resumo do que é o complexo de Angkor e, infelizmente, não encontramos com o Indiana Jones, embora em vários momentos nos sentíamos como se observados por alguém atrás de uma pedra.
Pensando bem, devia ser o Indiana Jones que habita em todos nós.
4 comentários sobre “O Indiana Jones que existe em nós”
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Só maravilhas! Locais, fotos e textos.
Obrigado, Iracema.
Novamente, o primeiro comentário.
Vocês estão montando um ranking?
Muito bom post, muito interessante!
O local parece inacreditável mesmo.
Você está bem no ranking sim, Antônio.