“Seus guias nos disseram que vocês estão fazendo a vida deles ficar muito difícil. É verdade? ”
Responder a um oficial de imigração nunca é uma tarefa fácil. Ele tem o poder supremo de decidir se você pode ou não entrar no país dele pelos motivos mais subjetivos possíveis.
Você sabe que tem que dizer a verdade, nada muito além disso, mas definitivamente aquela era uma pergunta muito estranha.
Mais estranha ainda quando já tinham se passado mais de duas horas que estávamos retidos na fronteira da Namíbia com a África do Sul. Tudo isso levando em consideração o fato que ninguém do grupo precisava de visto antecipado para entrar na África do Sul. Todos já tinham seus passaportes carimbados e com entrada aprovada para o último país da nossa aventura.
Silêncio geral. Todos se entreolharam, mas ninguém respondeu. Nosso guia Tawanda era o mais constrangido.
“Brincadeira minha. Podem seguir viagem. Bem-vindos à África do Sul.” Deu vontade de falar, em português mesmo para ele não entender, que aquilo tinha sido uma baita brincadeira de mau gosto com nossos guias”. Mas achei melhor me calar. Foi melhor assim.
E a última fronteira foi cruzada.
Depois entendemos o motivo da demora: nosso cozinheiro, o Knowledge (sic), é que era o problema. Aparentemente, nos registros da polícia da África do Sul, havia um criminoso homônimo e isso fez com que ficássemos retidos. Quando conseguiram comprovar que o nosso importante tripulante não era o Knowledge procurado, pudemos seguir caminho. E, aí tenho que concordar com a imigração sul-africana, um criminoso chamado Knowledge é algo que a polícia tem que dar atenção!
Agora era só aproveitar o quadragésimo dia de nosso Overland pela África. No dia 41, como programado, chegaríamos a Cape Town onde nos separaríamos do Johnny (nosso caminhão que substituiu o Mike. Não lembra do Mike? Então lê esse outro post aqui), dos nossos guias e amigos de aventura.
Paramos para dormir na região de Cederberg no oeste da África Sul. Muitos vinhedos e o famoso braai (que significa churrasco em africâner, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul) oferecido pela hospedagem familiar que nos acolheu nesta nossa última noite.
Queremos que a viagem continue, mas as enormes distâncias africanas parecem diminuir agora. O caminhão chega muito rápido no destino final: Cape Town. Algumas lágrimas, despedidas e vidas que ficaram, em momentos diferentes, de 5 a 41 dias juntas, se dispersam.
Dave Pearce, Elizabeth, David, Bozeman, Diamela, Quilvio, Tere, Jr Lee, Maca, Cata, Elle, Will Reynolds, Rachel, Dave Harris, Ebony, Sean, Will Park, Kim, Alex, Sigrid, Lorena, Sr Lee, Chad, Ashley, Inês, David, Damien, Barbora, Tanja, Tawanda, Knowledge, Johannes, Evans e Becky estão seguindo suas vidas.
Eu e Celina passamos alguns dias na lindíssima Cape Town. Hora de passear. Table Mountain, prisão do Mandela em Robben Island e o movimento constante no V&A waterfront. Novamente turistas como tantos outros.
Quênia, Tanzânia, Malawi, Zâmbia, Zimbabwe, Botswana, Namíbia e África do Sul. Oito países para comprovar que não existe “a África” e sim “as Áfricas”. E olha que ainda existem 46 países africanos que eu não conheço. Todas as lembranças e incríveis experiências por que passamos são agora tatuagens em meu corpo que jamais sairão.
A etapa africana chega ao fim. Adeus ao Johnny, ao Mike, aos novos amigos e a esse continente que, por motivos objetivos e subjetivos, me atrai tanto. Viva África!
Que tristeza. Que felicidade. Que boa sensação é ser o motorista do caminhão na minha estrada.
8 comentários sobre “Cruzando a última fronteira”
Comments are closed.
Marcelo: realmente um bandido de nome Knowledge deve ser muito perigoso! E fecho contigo: e uma ótima sensação estar satisfeito como motorista do caminhão da própria vida… Parabéns!
Pois é, Cláudia. E “dirigir” pela África foi uma delícia.
Poxa, que susto! Achei que tinha acabado! kkk
Não fico comentando mas estou acompanhando tudo!!
Fotos lindas, relatos poéticos e a sensação de que estou conhecendo junto!! Assim, faço o clássico viajar em sair do lugar! kkk
Grande beijo em vocês!
Que bom que está gostando, Cida.
Faz tempo que não consigo escrever o primeiro comentário…
Muito legal o post, e as fotos ótimas (até a que vcs aparecem).
Abrçs,
Pois é, você já foi melhor nisso. 🙂
MARCELO QUE PASSEIO HEIN?DEPOI S DESSA VIAGEM SEU MUNDO NÃO SERÁ O MESMO.
SERÁ QUE VCVAI SE ADAPTAR DE NOVOAO BRASIL?
ABÇS DA SUA MÃE
Do futuro sabemos pouco, mãe. Beijos.