Eram cinco horas da tarde em Fish River Canyon, no deserto da Namíbia. O sol começa a se por. Cansados, mas ainda deslumbrados e hipnotizados com a imponência da paisagem. É o maior canyon da África e a vista nos faz perder a noção do tempo.
Não dá vontade de ir embora. Mas como o pôr do sol por aqui é cedo, não podemos nos atrasar. Afinal de contas são ainda mais uns 100 km até a próxima acomodação. E ninguém quer estar numa estrada de terra a noite na Namíbia.
Uma leve subida e deixamos o canyon para trás.
Grgrgrgr. Não, não era um leão. Existem pouquíssimos animais no Fish River Canyon. Paradoxalmente, apesar do fish e do river no nome, encontrar animais e água por aqui não é tarefa trivial.
Grgrgrgr novamente. Todos olhamos para a cabine do caminhão e percebemos que havia alguma coisa errada com o Mike. As suas marchas simplesmente não engatavam.
Nosso segundo caminhão da viagem (o Steve foi trocado no Zimbabwe) sofria. O deserto da Namíbia é duro. Faz todas as molas, parafusos e engrenagens mais íntimos tremerem. Não é fácil um veículo aguentar essas condições.
Todos os caminhões da empresa pela qual fizemos o overland pela África têm um nome. Tantas horas de convivência que eles se personificam e se transformam em mais um companheiro de viagem. Genial a ideia de dar nome aos caminhões.
Pois é, não deu mais para o Mike. E esse foi o segundo piripaque dele. O primeiro foi um pneu furado que nos fez ficar parado umas duas horas na estrada (levantar um caminhão de 15 toneladas não é moleza não!)
E agora? O que fazer? Passar a noite dentro do caminhão não parece muito animador. O frio forte das noites desérticas está chegando. Nosso guia Tawanda consegue colocar o Mike em ponto morto e aproveitar a inclinação da estrada para retornar para a portaria da entrada do Canyon. Conseguimos uma linha de telefone fixa (celular por essas bandas não funciona) e Tawanda consegue entrar em contato com a central de emergência da empresa em Cape Town. Vamos precisar de um resgate. Muito eficiente, em uma hora a empresa encontrou uma solução. Organizou tudo para que um veículo viesse nos buscar e nos levar para a próxima acomodação.
Uma parte do grupo que estava acampando ficaria ali e passaria a noite nas barracas mesmo e nós, que estávamos com o pacote acomodação, iríamos enfrentar uma hora e meia de estrada pela noite da Namíbia. O carro era aberto e a questão agora era o frio. Essa foto, completamente desfocada e escura, mas tirada no calor (ou melhor, frio) do momento, mostra como todo mundo se preparou para a viagem.
Essa é a Namíbia. Normalmente para elogiar um local utilizamos o cliché dos clichés de narrativas de viagens que diz que tal lugar é uma terra de contrastes. A Namíbia não. É uma terra sem contrastes. O deserto e a secura são quase que uma constante. Falar em deserto da Namíbia é quase que uma redundância pois o país é majoritariamente árido. E isso que faz ser um país espetacular para se conhecer. As dunas são gigantescas, os vilarejos são isolados e até os parques nacionais são muito secos. O contraste aqui é não é dentro do país e sim gritante com o delta do Okavango na vizinha Botswana.
Por conta dessas características únicas, a Namíbia me conquistou de forma forte. A natureza no seu básico. Plantas e animais que sobrevivem com o mínimo de umidade. Paradoxalmente, essa questão de ter pouca água acaba ajudando bastante a ver bichos na Namíbia. O Parque Nacional do Etosha é uma pintura. Exatamente aquele estereótipo de desenho animado em que os animais se juntam em um waterhole para beber água. É assim mesmo. Nosso hotel ficava pertinho de um deles e ao cair da noite, hora em que os animais estão mais ativos, um monte de gente se reunia, em silêncio, assistindo ao desfile das diferentes espécies. Parece mesmo ida ao cinema. Só que não tem tela plana grande. Tem é uma tela de 360 graus gigantesca. E é tudo real!
Ah, já estava me esquecendo. Vocês devem estar curiosos com o dia seguinte da doença do Mike, certo? Ele ficou aguardando socorro médico no Canyon (se for para passar mal, que seja em um lugar lindo). Pela manhã, o veículo que nos havia resgatado retornou ao Canyon para buscar o restante do grupo. E aí fomos todos apresentados ao Johnny. Ele veio direto da sede da empresa em Cape Town (2 motoristas se revezando em uma viagem de 12 horas sem parar!). Nosso novo amigo nos levou sem problemas até a África do Sul. Não estou triste. Tenho que certeza que o bravo Mike está com saúde de ferro agora.
Obrigado pelos seus sacrifícios por nós, Mike.
8 comentários sobre “Mike passou mal na Namíbia”
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Essas dunas mudam de lugar?
Esquibunda aí deve ser radical…
Aparentemente elas não mudam de lugar não. O vento (forte) varia de direção dependendo da estação. Não vimos esquibunda nem ninguém vendendo côco gelado lá em cima. Olha a boa oportunidade aí…
Ainda bem que a empresa foi muito competente. Com certeza a paisagem fica muito mais interessante quando os percalços são solucionados com rapidez . As fotos estão lindíssimas, difícil de escolher a predileta, mas a das girafas me hipnotizou! Amei !
Continuem aproveitando esta aventura fantástica.beijos
Valeu, Bela. Problemas acontecem. A questão é como lidar com os mesmos. Isso vale para nós também. Bjs.
Tacu; Isso sim deve ter sido uma boa aventura! Mas vocês estavam bem amparados, né? Beijos!
A empresa era ótima sim.
Que fotos!!! Imagino que estar ali, apreciando aquelas vistas é ainda muito mais arrebatador, ainda que meu amigo seja um grande fotógrafo. Beijos e saudades de vocês.
As melhores fotos da viagem foram da Namíbia!