Tenho certeza que você conhece algumas pessoas que seguem cegamente o GPS mesmo percebendo que tem alguma coisa errada (placas indicando outra direção, caminhos ruins, etc). Eu mesmo já me vi nessa situação. Ou seja, em alguns momentos, por uma defesa psicológica, as pessoas tendem a acreditar mais em um recurso externo do que em seus próprios olhos e sua intuição.
Tem uma frase que eu aprendi nos últimos tempos que está fazendo enorme sentido agora nessa etapa de nossa viagem:
“O mapa não é o território.”
Meio óbvia e simplória, ela significa que qualquer mapa é apenas uma representação da realidade e não a realidade em si. Ao olharmos para um mapa, temos a impressão que já sabemos tudo sobre o território que vamos explorar e estamos 100% preparados para o que der e vier, mas esquecemos vários pontos:
- o mapa pode estar errado;
- qualquer mapa, pela natureza do mesmo, não tem como conter todos os detalhes (alguns essenciais);
- mapas são naturalmente estáticos e não contêm um sem número de aspectos dinâmicos que afetam a realidade;
- hoje em dia, mapas dependem de internet;
- mapas são 2D (ok, no extremo 3D), mas a realidade é formada por múltiplas dimensões (clima, sons, cheiros, pessoas, animais, estados de espírito, etc).
Por que essas reflexões agora?
Eu me considero um cara organizado e bom planejador, no entanto, bobinho eu, essa viagem de longo prazo está me ensinando que o buraco é mais embaixo.
Tenho que reconhecer que o planejamento das etapas da viagem está sendo bem mais complicado (e estressante) do que eu imaginava. Depois da Celina, quem eu mais convivo na viagem é meu amigo Google. No entanto, ele tem alguns hábitos indesejados (ao contrário da Celina 🙂 ). Por exemplo, ele só se alimenta bem com internet de qualidade. E não é sempre que conseguimos isso. Às vezes temos umas conexões bem mais ou menos. Às vezes, ele tem vontade própria (meu Facebook amanheceu um dia todo em tailandês!!!! Perdi uns 15 minutos para conseguir voltar ao português). Às vezes, o público em geral, que é o grande alimentador do monstrinho, dá informações incorretas ou desatualizadas.
Ou seja, minha frase óbvia do dia é: “o Google não é a realidade.”
A quantidade de decisões que temos que tomar todos os dias é gigantesca. Diariamente temos que decidir onde comer, onde lavar a roupa, quanto dinheiro trocar, onde esconder o passaporte e coisas de valor, quais os lugares que valem a pena ser visitados, qual a previsão do tempo, qual o transporte mais eficiente….
Qual? Como? Onde? Quando? Quem? São as palavras mais faladas entre nós.
E essas são as decisões “fáceis” diárias que não tem consequências tão graves assim (algumas têm consequências gravíssimas como deixar a Celina com fome, por exemplo).
As decisões mais complicadas são as que afetam todo o andamento da viagem. O que precisa ser feito com antecedência e o que não precisa? Por exemplo, já aprendi que passagens aéreas na Ásia são bem fáceis de encontrar, porém analisar o melhor momento para comprar as mesmas não é tão simples assim. Deixar a decisão para mais tarde encarece bastante as coisas.
Em relação à hospedagem, o site do Agoda é disparado o melhor para ser usado por aqui. Mas tem que ficar esperto pois as melhores opções no critério custo-benefício se esgotam cedo. Outras coisas também ficam indisponíveis. Por exemplo, quase que não conseguimos mais lugar no barco que nós escolhemos no Vietnam para conhecer a baía de Halong. Não conseguimos uma cabine individual no trem noturno de Bangkok para Chiang Mai pois, com um mês de antecedência, estava tudo lotado. O encaixe das datas da África não foi simples. A Índia é um zilhão de vezes mais complicada que eu pensava (e ainda nem chegamos lá!).
Faz parte. Mas cansa também. Claro que você pode deixar tudo para em cima da hora, mas das duas, uma: ou vai pagar bem mais caro, ou vai encarar uma situação não ideal. Pois é, flexibilidade tem preço. E às vezes, não é barato, não!
Dito tudo isso, parece ironia, mas estava mesmo precisando de umas férias da viagem. Muita gente ainda não acredita e não consegue visualizar isso (eu mesmo tinha alguma dificuldade de entender antes de ter essa vivência na prática), mas viagem de longo prazo não é mesmo uma viagem de férias.
Assim, nada melhor que estar na parte mais turística da Tailândia nestes últimos 10 dias. Quem acompanha as fotos da viagem no facebook e no instagram, deve ter percebido que elas se tornaram mais “férias de verão” nos últimos dias. É proposital e reflete o nosso momento.
Precisávamos mesmo dar uma respirada e nos preparar para o que vem por aí. Confessamos, sem remorso, que nosso ritmo aqui é come-praia-pesquisa internet (quando a conexão permite)-dorme.
Daqui partimos para Bangkok, Chiang Mai (norte da Tailândia), Laos e Vietnam. Estamos na dúvida sobre ir ao Cambodia e já temos as datas da Índia e da África (embora ainda não temos ainda as passagens aéreas!). Entre Índia e África tem um buraco de 10-12 dias que teremos que decidir onde estar.
Na linha do autoconhecimento, aprendi algumas coisas: antes da viagem pensei que seria fácil sermos flexíveis e decidir tudo em cima da hora. Lemos que para muitos viajantes de longo prazo funciona assim, mas para nós não. No nosso caso, isso acaba causando um stress desnecessário.
Outro ponto interessante que aprendemos da interação do casal é que se formos discutir e chegar a um consenso sobre todas as decisões do dia a dia da viagem, o negócio não rola. Como sempre tivemos a tendência de ouvir a opinião do outro e até ceder para satisfazer o outro, isso não funcionou bem pois era um tal de “por mim, tanto faz”, “você escolhe” e similares e a decisão demorava muito.
Para resolver isso, Celina foi recentemente promovida à diretora de suprimentos encarregada de todas as decisões do que comprar, onde e quando comer – até porque, se fosse eu o diretor, comeria curry em todas as refeições – e eu o diretor de logística, com responsabilidade de apresentar opções de roteiros e transportes. O subordinado pode até dar uns pitacos, mas a decisão do(a) diretor(a) é sempre final e inapelável 🙂
14 comentários sobre “Finalmente, férias na Tailândia”
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Muito legal o post, adorei! Ainda não tive a oportunidade para viajar para a Tailandia, mas espero em breve realizar essa vontade!
Que legal. É um país superinteressante! Várias regiões com características diferentes.
Marcelo; E a sua cara: organização e métodos!
Sempre foi, sempre será 🙂 Mas com mais alguma flexibilidade agora…
Já pensaram no Nepal para esses 10-12 dias que estão em aberto? Fica a sugestão.
Boa sugestão, mas o Nepal ainda está com alguns problemas devido ao terremoto (ainda estão ocorrendo alguns aftershocks) e ainda tem o problema que indo ao Nepal, provavelmente teríamos que aplicar para um visto de múltiplas entradas na Índia (poucos voos de Kathmandu para outros países). O processo de visto na Índia não é o mais fácil do mundo não 🙂
Gosto muito de ler o texto de vocês!!! Parabéns!!! Morri de rir lendo as diferentes “atribuições de cada cargo”. É o aprendizado do mundo corporativo sendo usado nas viagens…. kkkkkk
Pois é, tudo que já vivemos e aprendemos é utilizado nesta viagem 🙂
Marcelo; adorei a divisão de papéis/tarefas! Não creio que curry no café da manhã seja saudável… Aproveitem as férias!
Foi apenas uma brincadeirinha 😉 Curry é bem saudável, mas concordo que 3 vezes ao dia pode ser exagero 🙂
Imaginava que fosse difícil mas voces mostraram que é “bem difícil” ! Gostei muito do post, bem esclarecedor. Viajar assim não é para amador. Bjs
Pois é, a ideia do relato é abordar a viagem de vários aspectos possíveis. É bem libertador para nós.
É, meus amigos, se trata daquela máxima da grama mais bonita do vizinho. Olhando daqui, inveja amiga, casal junto esse tempo todo, conhecendo um montão de coisas em lugares lindos ou, no mínimo, interessantes, todo dia com cara de sexta à noite, sábado e domingo (antes da vinheta de encerramento dos Trapalhões, por favor). Daí vocês cortam o barato do invejoso. Adorei o post. Beijos e abraços com muitas saudades.
Como tudo na vida, tem várias compensações. Mas é óbvio que tem que querer muito e se esforçar.