…de entender a Índia.
Não espere um post como os outros. Estamos na Índia. Não espere que as coisas façam sentido. Estamos na Índia. Não espere um pensamento organizado. Estamos na Índia. Não espere tirar conclusões. Estamos na Índia. Não espere entender bem o texto. Estamos na Índia.
Dito isso, em primeiro lugar, sábia foi a decisão de nos juntarmos a um grupo para viajar pelo país. Era um grupo pequeno de apenas 13 pessoas, composto de australianos, irlandeses, uma americana, nós e o guia indiano, que era excepcional, nos ensinou muitas coisas e cuidou de toda nossa segurança. A promessa era mostrar uma Índia sem maquiagem. E foi cumprida à risca. Que bom. Que pena. Começamos em Nova Delhi que, com seus 20 milhões de habitantes, certamente é a cidade mais feia e assustadora que já conheci.
Viajamos de trem para Jaipur, a cidade rosa (na realidade os prédios têm um tom ocre e não rosa, por que chamam de pink city?), que possui uma arquitetura bem interessante. Lá encontramos um indiano casado com uma brasileira, que costumava comprar pedras no Brasil para revender na Índia, mas decidiu não ir mais ao Brasil pois, segundo ele, tem muito ladrão lá!
Seguimos para Agra, onde fica o Taj Mahal. Mais bonito ao vivo que nas fotos. Fomos depois para a pequenina cidade de Orchha, onde pudemos conhecer a Índia rural. Engatamos para Khajuraho, onde visitamos os interessantes templos com imagens eróticas. De avião, voamos para Varanasi, onde o rio Ganges é rei e sujeira e mendicância são rainhas. Curiosamente, a visão a partir do barco, no meio do rio, era de calma e tranquilidade.
Voltamos para Nova Delhi, o ótimo grupo se desfez e, tendo que aguardar nosso próximo voo, tivemos que passar mais três dias sozinhos naquela cidade onde nós não éramos bem-vindos. O calor encostava nos 43-44 graus. Ninguém sorria. Ninguém falava obrigado. O que mais desapontou na Índia não foi a sujeira nem a miséria. Ambas as coisas foram em um nível muito maior do que eu poderia imaginar existir, mas, de certa forma, isto já era esperado. O que me incomodou foi a atitude não receptiva da população. Os olhares eram invasivos (principalmente para as mulheres). Era intimidador. Depois de sair dos países do sudeste asiático, onde simpatia e sorrisos são a regra, foi um choque enfrentar a agressividade da Índia.
Nas ruas, as pessoas sempre tentavam te enganar. Sempre começavam com um pseudo simpático “where are you from?”. No início, nós ainda respondíamos Brazil mas aí a pessoa insistia em nos levar a uma loja para comprarmos bugigangas. Com o tempo, mudamos a resposta, falando de maneira mais ríspida: “We are from ….”. E inventávamos um país qualquer. Normalmente, aí o pessoal se afastava.
E onde estão as coisas boas, você deve estar se perguntando? Onde está a Índia de que as pessoas voltam “espiritualizadas” e “encantadas”? Está em todos os lugares e em nenhum lugar ao mesmo tempo. A Índia é muito complicada para se generalizar. A Índia é muito complicada para qualquer coisa. Mais do que um país, é um subcontinente, como eles gostam de dizer. Temos que lembrar que são 1.2 bilhões de habitantes, com um sistema de castas, casamentos arranjados, com mais de 3.000 deuses, com 23 (isso mesmo, vinte e três) línguas oficiais, onde matar boi é crime e o único lugar que conheço onde as pessoas mexem a cabeça na diagonal ao responder uma pergunta. Você nunca tem ideia se aquilo é um sim ou um não.
Bem, essa foi a minha Índia. Talvez com o tempo, minhas impressões mudem. Não sei. Talvez a Índia que conheci, não seja a Índia verdadeira. Não sei. Talvez o sul da Índia seja completamente diferente. Não sei. Talvez o calor opressivo tenha afetado minha percepção. Não sei. Talvez tenha sido tudo ficção e não percebi. Não sei.
Ah, faltou uma coisa: só sei que a culinária indiana é a melhor do mundo!
(*) Para quem ficou curioso com o título do post: é uma frase da primeira parte da famosa obra “a Divina Comédia” de Dante Alighieri. O livro tem três partes: O Inferno, o Purgatório e o Paraíso.
5 comentários sobre “Ó vós que entrais, percais toda a esperança…”
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O texto é desanimador, mas as fotos ficaram ótimas!
É Marcelo…se já não tinha vontade de ir a Ìndia, depois do seu relato que não quero ir mesmo…
Além do inferno e do purgatório, e o paraíso de um outro lado, você acabou de incluir a India na Divina Comédia…
Imaginava mais ou menos assim mesmo.
Só assim achamos que aqui pode ser um paraiso….rsrsrs
Boa Marcelo. Seu relato só reforçou a minha vontade de NÃO ir a India.