This is Africa.
Faltou luz? This is Africa.
Não tem internet? This is Africa.
Burocracia às vezes irritante para se cruzarem as fronteiras? This is Africa.
Estradas mal mantidas? This is Africa.
A expressão This is Africa é sempre usada para se justificar algo ruim neste continente. Não tem a quem culpar ou como ser diferente, então this is Africa.
Mais do que a carga negativa da expressão, o que incomoda é a ideia subliminar da impossibilidade da mudança no continente africano. Nada mais injusto e cruel.
Embora infraestrutura, burocracia e corrupção continuem como questões difíceis de resolver por aqui, é sim possível ver uma nova África com outros olhos.
Estivemos na África há 11 anos atrás, em 2005, e pudemos testemunhar a mudança que aconteceu em Nairobi, a capital do Quênia. Embora ainda continue uma cidade feia e sem charme, é fácil perceber novos prédios de primeira linha surgindo. Bons restaurantes e supermercados modernos com produtos abundantes também estão disponíveis. E como a África não é um lugar barato (certamente a logística de se colocar um produto na prateleira deve ser o grande desafio por aqui), vemos que já existe uma significativa classe média emergente pois os restaurantes mais caros e shoppings não estão às moscas.
Nairobi é bem representativo da África urbana, mas o que os turistas buscam por aqui definitivamente não são as cidades e sim a natureza em sua forma mais bela e pura. Com todo o desequilíbrio social que ainda se encontra neste continente é de certa forma irônico identificar o fantástico equilíbrio ecológico que existe nos parques nacionais africanos. Não há demarcações explícitas nem cercas e os animais se deslocam livremente ao longo de distâncias gigantescas. Muitas vezes os parques nacionais cruzam as fronteiras de países de forma contígua como o Serengeti, na Tanzânia, que emenda com o Masai Mara, no Quênia. É impressionante ver os animais se aglomerando para a grande migração. Milhares de Gnus e zebras juntos (e leões, guepardos e leopardos ao redor tentando faturar um almoço) fazendo anualmente o percurso sul-norte-sul, em função do regime das chuvas na região. Todo ano fazem exatamente a mesma coisa e nunca frequentaram escola para aprender isso. 🙂
Outra coisa que nos tem chamado atenção na África é a simpatia e o sorriso aberto com que a população local (especialmente crianças) nos recebem. Com raras exceções, parece algo autêntico e não simplesmente atitude para nos vender coisas. Há uma certa leveza nas pessoas.
Outra coisa meio óbvia sobre a África, mas que as pessoas se esquecem, é que estamos falando de um continente com 54 países. Só por aí já dá para se ter uma ideia do quão diverso esse continente é. Assim, se você fala que viajou para a África, isso não significa muita coisa. Tem que ser bem mais específico. No nosso caso, conhecemos o leste africano (Quênia, Tanzânia e Malawi) e o centro sul (Zâmbia, Zimbabwe, Botswana, Namíbia e África do Sul). Dentro dessas regiões (que são definidas por critérios tanto geográficos como políticos), alguns países ficaram de fora como Uganda, Ruanda, Burundi na África do Leste e Lesotho, Suazilândia e Moçambique mais na parte sul.
Sem nenhuma sombra de dúvida, de maneira geral (olha a generalização ai de novo!), a África está atrás dos outros continentes em todos os quesitos de desenvolvimento humano. Será um longo e doloroso caminho, mas há motivos para se ter esperança.
Serengeti na Tanzânia, o Parque Nacional mais impressionante que conhecemos? This is Africa.
Crianças sem nenhum recurso, mas felizes? This is Africa.
Continente que merece um futuro mais justo e próspero? This is Africa.
10 comentários sobre “TIA”
Comments are closed.
Tacu: embora um pouco atrasado estou pondo a leitura dos posts em dia! Seguem ótimos! Acredito na possibilidade desenvolvimento humano, lá e cá! Mas creio que serão longos e dolorosos processos! E você deve bem saber que a percepção de felicidade e patrimônio humano e cultural e é descolado dos indicies de desenvolvimento econômicos! Beijos!
Oi Cláudia. Os processos serão longos sim. É uma verdade total que a felicidade do ser humano não está ligada diretamente às medidas econômicas “tradicionais” mas existe uma base mínima que a África tem que alcançar (e ainda não alcançou) para que essa tal de felicidade seja mais plena. A África vai chegar lá!
Oi Tchelo,
Adorei o texto e as fotos!!! Também temos um TIB por aqui!!!
Saudades!!! Beijos para você e Celina.
Obrigado Gi. Que bom que você está lendo e gostando do blog. Saudades e beijos de nós dois também!
Oi, Zéu. Obrigado pelo comentário. Bem pertinente. Esse questão de comparar misérias e países é muito complexa mesma. Por exemplo, a nossa impressão foi que a miséria na Índia é muito maior que na África, por exemplo. E entram outros pontos como felicidade, estado de espírito do povo, que são absolutamente subjetivos. Muito difícil de objetivar ou colocar números nestes conceitos.
Amigos, há quanto tempo (estou mais ausente tentanto sobreviver na savana Brasileira nossa de cada dia).
Legal o novo Post. Muito feliz o texto, Marcelo.
Um breve comentário deste que passeia de Norte à Sul deste nosso Brasilzão: não precisa ir longe para ver a Africa dentro do nosso país. Está logo alí na favela do Rio, na periferia de São Paulo ou Salvador, nos guetos do Recife, etc… logo alí mesmo, muitas vezes nos fazendo o pão do café da manhã e nos preparando a mesa.
So This is Africa everyday no nosso país, meu velho.
Forte Abraço!
Excelente texto, muito legal, o gancho foi ótimo!
Fotos sempre ótimas
Valeu.
Valeu, Flores. Tomara mesmo que o IEB tenha vida curta.
Muito bacana seu novo post, Tacuchian!
Espero que estejamos nos livrando, por aqui, do IEB (Isso é Brasil!).
Detalhe da camisa do menino “Messi”. O futebol é realmente um artigo que conseguiu se universalizar de modo impressionante.
Abraços saudosos no casal.