Gosto muito da comida tailandesa, com seus pratos perfumados e marcantes. A primeira vez que provei estes sabores foi, que me recorde, no charmoso Sawasdee de Búzios, que já nem existe mais. E a paixão pela gastronomia thai aumentou durante nossa temporada em Londres. Apesar da (provavelmente justa) má fama da comida típica da Inglaterra, a capital do país é um ótimo lugar para se deliciar com temperos do mundo todo, inclusive asiáticos. Praticamente toda semana tínhamos um jantarzinho thai. Virou comfort food para a gente. 😉
Estava curiosa para ver como seria a comida tailandesa de verdade, feita na Tailândia. Muitas vezes a gastronomia de uma região perde sua autenticidade quando viaja para outros cantos, por sofrer muita adaptação às preferências e disponibilidades locais.
Com a Tailândia incluída no nosso roteiro, decidimos fazer uma aula de culinária em Bangkok. Após pesquisa na internet, decidimos pela Sompong Cooking School, que pareceu uma boa relação custo-benefício. Cada dia da semana tem um cardápio de cinco pratos já definidos, e escolhemos o dia que nos agradava mais.
Foi muito bacana! A turma tinha umas 18 pessoas. Nós dois éramos os únicos ocidentais, sendo os demais participantes de Cingapura, China, Japão, Myanmar e Taiwan.
O programa começou com uma visita ao mercado local, onde uma cozinheira atenciosa nos apresentou aos diversos ingredientes e contou várias curiosidades.
De volta à escola, começamos o preparo dos pratos em bancadas e fogões individuais. A professora era ótima e explicava muito bem… isso depois de nos adaptarmos a um sotaque divertidíssimo, que incluía vogal onde não existe:
slice = salaice
slow = salou
spoon = sapum
skin = sakin
Além do engraçado Cebolinha tailandês:
camera = camela
ruler = luler
Primeiro achei que a professora não conseguia pronunciar o R, mas depois notei palavras com S que ela falava com R.
Em instantes já conseguíamos abstrair a vogal extra e entender tudo, mas até o final da aula foi muito engraçado.
Brincadeiras à parte, temos que reconhecer que deve ser muito difícil ter que aprender um outro alfabeto (e outros algarismos) para conseguir se expressar num idioma estrangeiro. Não quero nem pensar na dificuldade que seria para aprendermos tailandês. Além do alfabeto impossível, a língua é tonal e a gente simplesmente não consegue perceber a diferença entre algumas palavras. Como LONGE e PERTO, que me soaram a mesma coisa. Já viu a confusão potencial, né?
Uma vez que os ingredientes já estão separados e picados, o preparo dos pratos é muito rápido, só uns 5-10 minutos no fogo. Ainda mais que as porções eram individuais. Bem, não no meu caso, que estava cozinhando para dois, já que o Marcelo preferiu se inscrever como observador e ficar de ajudante/fotógrafo. Antes de começarem os trabalhos a professora se ofereceu para preparar a comida dele, mas o meu maridinho preferiu comer a minha. Não parece uma decisão muito sábia, né? O amor é lindo. 😘
Como são muitos pratos a serem preparados em pouco tempo, o ritmo é corrido. Principalmente para quem não tem muita prática. No final eu estava exausta, mas com todos os dez dedos das mãos intactos e muito feliz. Ficou tudo uma delícia!
A experiência foi tão legal que o Marcelo sugeriu fazermos outra aula durante nossa passagem por Chiang Mai (no norte da Tailândia), numa fazenda orgânica, a Thai Farm Cooking School. E desta vez ele estava animadíssimo para pegar uma estação de trabalho só para ele! O dia foi ótimo. A fazenda é super agradável, com instalações espaçosas.
Tirando nós dois, a turma era toda de europeus. Além da tradicional visita ao mercado, teve também uma ao pomar e horta da fazenda. A professora MB tinha um astral ótimo, sempre rindo, enquanto ensinava dois ou três pratos ao mesmo tempo, intercalando instruções, conforme o prato que o aluno tinha escolhido fazer. Neste curso o cardápio não era um só para toda turma, definido pelo dia da semana. Cada aluno podia escolher os pratos de sua preferência, dentre uma lista de opções.
Bom que, além de nossos pratos, vimos como se preparam também os escolhidos pelos outros alunos.
As técnicas são bastante simples. E a comida ficou muito boa!
O paladar da comida típica daqui não é muito diferente do que a gente encontra em bons restaurantes por aí. A maior diferença é a quantidade de pimenta, mas é só dosar/pedir pouca. E também a variedade de pratos disponíveis, cada um mais saboroso que o outro.
O maior desafio vai ser encontrar os ingredientes no Rio. Essas lojas de produtos asiáticos, como aquela da Rua Marquês de Abrantes, têm muita coisa, mas alguns dos ingredientes frescos vão precisar ser substituídos. Uma adaptação já sei que vou fazer – esquecer a berinjela, que esse povo adora colocar, de todos os tamanhos e formatos, em vários pratos tailandeses.
Apesar da limitação de peso/espaço na bagagem, não tive coragem de deixar para trás os livros de receita das duas escolas. Até pensei em tirar foto das páginas e mandar os livrinhos para o Rio por correio. Só que já tivemos postagens extraviadas nesta viagem e desisti de enviar. Pelo menos por enquanto.
Aprendemos a preparar curry verde, vermelho e amarelo, com frango e camarão, sopa de leite de coco, salada de papaya, salada picante de frutas, pad thai, dentre outros pratos deliciosos.
A sobremesa que mais se vê na Tailândia é “mango and sticky rice”, que lembra um pouco um arroz doce ou canjica, com leite de coco e um toque de sal e amendoim, acompanhado de manga fatiada. Demoramos a provar, porque parecia esquisito e nossa experiência diz que sobremesa não é o forte da Ásia, mas nos surpreendemos. Não chega a ser uma mousse de chocolate, mas vale a pena provar.
Algumas das curiosidades que aprendemos com as professoras nas visitas aos mercados locais:
As flores que vão ser colocadas nos altares dos templos Budistas não podem ser cheiradas, senão passam a ser consideradas usadas/de segunda-mão (!).
Como as mulheres tailandesas (assim como outras asiáticas) valorizam muito a pele clara, a grande jogada de marketing é incluir no nome dos produtos expressões como “branco” e “clareador”, mesmo para produtos que não são para a pele, como o shampoo de “cereja branca” que vimos.
Por economia de tempo e dinheiro, a típica família tailandesa dos centros urbanos faz praticamente todas as refeições, inclusive café da manhã, fora de casa (nas feiras e restaurantes populares) ou compra refeição pronta e leva para comer em casa. Muitas casas sequer têm forno ou fogão. Já tínhamos visto isso em Cingapura.
Além de serem a base do almoço e do jantar, arroz e macarrão de arroz também dominam o café da manhã. Aí já é demais, né?
13 comentários sobre “Vai um curry aí?”
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Celina: você embarcou em requintes de paladar e cultura e de certa forma isso se assemelha aonde conhecemos da ourivesaria tradicional , embarcou o que provavelmente vai ampliar o seu raciocínio em outras matérias como as artísticas, culinárias e jurídicas e o seu escopo para detalhes que não podem ser ignorados. Achei interessante a importância maior que vc está dando as opiniões de Marcelo, ora coincidentes, ora complementares, ora harmoniosamente antagônicas.
Muito legal o “post”.
Parece que a comida é bastante saudável também.
Os pratos que aparecem nas fotos também são muito bonitos.
E a massagem tailandesa?
bjs
Gai,
A massagem thai é muito boa e barata. É impressionante a força daquelas mulheres tão pequenas.
Bj
Poxa, vocês tinham que ter passado pela Tailândia antes de virem para Perth.
☺
Nossa Celina, super legal!!! Adoro comida thai!!! Quero aprender também.
Saudades!!! Beijos
É fácil e fica uma delícia.
Bjs
Experiência muito interessante! Adorei!
Foi muito bacana mesmo. Bjs
Cê, louca para experimentar sua culinária e aprender os truques da comida Thai. Aproveitem!!
beijos saudosos
Belinha,
Vai ser engraçado ensinar alguma coisa de cozinha para VOCÊ.
Saudades.
Excepcional este post!
Realmente é impressionante vcs conseguirem encaixar alguns programas menos comuns no roteiro, tendo que fazer a programação em tão pouco tempo…
😘